domingo, 24 de fevereiro de 2008

o desesperado e a ingênua

Semana passada enquanto eu voltava da faculdade, um homem visivelmente transtornado chorava e gritava coisas sem sentido no meio da rua. Minha primeira impressão foi de que ele estava bêbado ou drogado, e por isso diminui o passo para não cruzar com ele.

Enquanto andava bem lentamente, sem tirar os olhos daquele homem a minha frente, percebi que ele definitivamente não fazia o estilo de um daqueles coitados que ficam noiados e jogados na sarjeta. Ele vestia calça e camisa sociais, um sapato e levava consigo uma bolsa a tiracolo.

Continuei observando o homem que gesticulava loucamente enquanto as pessoas que andavam na calçada desviavam apressadamente de sua direção e lançavam olhares de reprovação. Em meio a seus gritos, poucas frases podiam ser entendidas, e só quando as escutei tudo ficou claro. Muito claro.

....Você não é pior que ninguém..... tem valor ..... pensa que é .... meu Deus........
um dia ...... meu Deus .... pior que ninguém ..... o que vou fazer?...

Posso estar enganada, mas duvido.
Aquele coitado tinha acabado de perder o emprego. Se ele foi demitido ou se não foi admitido depois de uma entrevista, pouco importa. O fato é que o homem estava desolado, desesperado e, principalmente, era inofensivo. Ele estava preso em seus próprios pensamentos, incapaz de prestar atenção em quem passava ao seu lado.

O que me faz contar essa história aqui é a minha indignação comigo mesma.
Sempre pensei que eu via as pessoas de uma maneira diferente, que não as julgava pela primeira impressão e me preocupava com suas dificuldades. Mas então, esse homem aparece na minha frente, no meio da rua, e fez todo esse pensamento se mostrar extremamente ingênuo. Afinal, o máximo que eu fiz foi me afastar do homem completamente alheia à sua situação, exatamente como todas as outras pessoas que andavam pela rua.

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